segunda-feira, 4 de maio de 2015

O confronto entre o que desejamos e o que a vida nos oferece


Entro no mesmo café todos os dias pelas sete da manhã, às sete da manhã ninguém diria que o humor está em grande forma, mas naquele café por norma isso acontece. Aprendi a ser bem-humorada com este género de pessoas, pessoas comuns que muito provavelmente teriam tantos motivos para fechar a cara e não sorrir, mas por norma isso não acontece. Gosto que me contagiem com essa alegria de ser. Num tempo difícil onde as portas se fecham, onde a existência é dura na maior parte dos dias, pessoas capazes de aceitar a vida e mesmo assim serem felizes, são um exemplo dos caraças.

Já se percebeu que dificilmente virão melhores dias, isso não é uma questão de ter esperança ou não, é uma questão de vivermos o melhor possível, sem andar sempre de cabeça baixa a reclamar de tudo. Há problemas sobre os quais me custa escrever e esses são os mais verdadeiros. Mau é uma doença, mau é fome, mau é desemprego, rua, frio, morte. Viver com pouco não é mau. Viver com pouco e ser feliz apesar disso, é supremo.

Posso escrever sobre isto porque vivi muitos anos extremamente revoltada com tudo. Eu não percebia porque é que se eu trabalhava todos os dias para ter as coisas, para fazer as coisas, elas não aconteciam. Hoje percebo que não está tudo nas minhas mãos, que não há muito caminho por onde ir. A continuar assim eu nunca vou poder realizar todas as coisas que qualquer ser ambiciona. Não neste país, não neste tempo.

Não considerem isto que vos escrevo uma fraqueza, porque é claro que eu mais que ninguém defendo a luta por aquilo que queremos, mas não nos podemos martirizar por não chegar tão longe com um dia nos imaginamos. Há certos dias em que chego ao meu sótão no último andar desta selva, depois de um dia de trabalho e penso “Inês é humanamente impossível fazeres mais”. Se me convenço disto, vivo melhor porque vivo sem pressão, sem tanta expectativa e sem tanta dor também.

Lutem, claro que sim! Lutem todos dias por um amanhã melhor. Temos de tentar as vezes que forem precisas, temos de nos cumprir, mas vivam também. Aceitem o que a vida oferece, celebrem a amizade, amem, sintam e acima de tudo dêem valor a todas as pequenas conquistas. Sofram e aprendam com isso, levantem-se e vivam mais intensamente ainda.

Eu não quero deixar passar a vida, nem quero que ela seja apenas um confronto sangrento entre o que eu desejo ter e aquilo que consigo ter. Não quero sofrer por coisas pequenas, pessoas pequenas, desejos fúteis e sonhos irreais. Quero ser feliz…ser feliz sem grandes motivos e sem depender de ninguém, só pode ser a mais autêntica forma de felicidade.
"É uma arte viver com a dor … mistura a luz com as cinzas."
Eddie Vedder






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