quarta-feira, 29 de abril de 2015

Antes de te aproximares de mim


Todas a pessoas com quem vamos estabelecendo ligações ao longo do tempo levam com eles um pouco de nós e deixam em nós um pouco da sua essência, nem sempre é algo bom. É impossível viver sem magoar ninguém, isso faria de nós super-homens. Contudo é possível fazer melhor, melhorar a nossa forma de ser com os outros deveria ser a nossa principal preocupação.

Porque aprendi à minha custa o quanto dói estar rodeado de pessoas e sentir-se só, porque aprendi que vale muito mais estar sozinho do que mal acompanhado, porque aprendi que são mais que muitas as pessoas que te vão usar, enganar e aproveitar a tua boa vontade para uso exclusivo dos seus interesses. Porque aprendi à minha custa que todos falhamos, mas uns muito mais que outros.

Antes de te aproximares de mim, analisa bem se temos alguma coisa para acrescentar um ao outro. Não há tempo a perder e eu deixei de ter paciência para aparências, conversas da boca para fora, jantares de ocasião que ficam bem no facebook, cenas de uma noite, mesas repletas de pessoas que fingem ter a vida perfeita, pessoas vazias que só me esgotam o corpo e a alma. Há um momento na vida que apenas nos interessam pessoas autênticas e essas são muito poucas hoje em dia.

Antes de te aproximares de mim, percebe que não há meios-termos no meu conceito de amor, ou amo tudo ou eu não amo nada. Percebe que as pessoas a quem me dedico são realmente o meu mundo porque eu não faço favor de me dar com ninguém. Esquece o “amor de vez em quando”, “o de vez em quando preciso de ti” ou o “de vez em quando somos amigos”, isso comigo não existe. Ou somos sempre e para tudo ou não somos nada.

Antes de te aproximares de mim é bom que saibas que eu não sou de constantes demonstrações de afecto ou de grandes carências. Estarei sempre que realmente for preciso, mas não estarei a todos os minutos. Sabe também que eu vou ao fim do mundo para defender quem gosto e por norma, não me esqueço de ti, em circunstância alguma. E apesar de aparentemente ausente eu não deixo de te amar, em circunstância alguma.

Antes de te aproximares de mim percebe que dificilmente vou ter alguma atitude preconceituosa ou normativa do teu comportamento, mas podes ter a certeza que vou dizer na tua cara que estás errado sempre que achar que estás. Sabe também que o maior problema da traição não é perdoar é voltar a confiar.

Antes de te aproximares de mim entende que do que eu gosto na amizade é da partilha e não tenho vergonha nenhuma de partilhar o que sou, sem artifícios. Tenho dias de grande alegria, cometo erros, tenho dias de agonia. Também não me dou com pessoas cheias de si. Ninguém é alegre sempre e o amor entre as pessoas devia servir para todas as alturas.

O mais importante na vida são as pessoas, nada como elas para transformar esta passagem num caminho mais bonito. Os “mais-menos” da minha vida não servem para nada a não ser para me dar a falsa ideia de preenchimento. Quando tudo à minha volta é “mais ou menos”, sou apenas um vazio. Aprendo com os erros e deixo entrar quem vem por bem. Rodeio-me de quem está por bem. Vivo com esses, choro, riu, ama-os da maneira mais correcta possível, são esses que merecem.
“Se os amigos são tão importantes na nossa vida como é que temos tão pouca vida para os (verdadeiros) amigos?”


quinta-feira, 23 de abril de 2015

A última carta


Talvez a maturidade seja aceitar aquilo que não podemos mudar e viver bem seja viver em paz com o que somos. A felicidade está no deixar que as guerras se apaziguem por si, deixar de lado as lutas inúteis e se eu tenho entrado em guerras perdidas.

Oiço tantas vezes as pessoas dizerem que só nos devemos arrepender do que não fizemos e que se não tentarmos, nunca saberemos. Usamos essas máximas com desculpas perfeitas para fazer o que nos apetecer, afinal só se vive uma vez. Mas não é bem assim…Muitas vezes as nossas loucuras deixam marcas profundas e um arrependimento que vai durar para sempre.

Há loucuras e há demências. Contigo eu deixei de ser uma louca satisfeita, para passar a viver na insanidade. Tu fizeste-me doente e eu deixei. São aberrações como tu que fazem as pessoas felizes ficarem feridas para o resto do tempo. E o tempo é tão curto.

Mas não, a culpa não é tua, a culpa das tuas monstruosidades é de pessoas como eu. Porque pessoas como eu acreditam sempre nas promessas quebradas que pessoas inúteis como tu erguem sem pensar. Porque pessoas como eu dão o melhor que têm. Dão tanto a tão pouco. E se eu dei.

Não é amor, já não é nada que se compare a isso. Eu aceito todos os dias um pouco mais que cometi um erro e que nunca vou poder mudar isso. Mas ainda dói… se dói. Dói na alma rasgada por ti. Uma ferida que já nada tem de sentimento magoado. Uma ferida de revolta é mais grave.

Como se me queimasse a garganta sempre que passas por mim com esse ar de quem domina o mundo. Logo tu que não vales nada. És a prova que grandes mulheres também se iludem e também choram. E se choram.

Eu cheguei até aqui com a plena consciência que tu foste o meu maior equívoco. Mas o que importa agora é como é que se vai daqui para lá. Porque o amor é o meu património e tu nunca o conseguirás destruir. Pode ser tarde demais para escrever esta carta…mas não é tarde demais para mim.

Para todas as mulheres que tiveram o azar de se cruzar com um filho da puta.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Pausa para a crónica - No 23 sem medo


Desço as escadas e acendo mais um cigarro, são sete horas e esta rua ainda está nua. Gosto da cidade despida de multidão, só o silêncio permite que oiça os meus tumultos. Lembro-me de ti e do teu olhar tão cheio.
Em passos lentos, caminho para a paragem onde me habituei a esperar pela alma e pelo 23 da carris também. Enquanto esperamos, eu a calma damos as mãos, com se precisássemos apenas uma da outra… nada mais.
A coragem faz-se demorar, ela sempre gostou de ser a última a chegar. Tenho tempo para pensar e criar o espírito para mais um dia perfeito. Há-de ser. Se formos juntos é mais fácil?
Chegou o 23, ninguém nos diz bom-dia. O que se consome mais nesta cidade é solidão. Cada um perdido no seu mundo, olhares vazios de pessoas com enfados matinais. Não me conduza por aí, esse caminho, eu já conheço. Reflicto.
Se vens comigo, então eu vou sem medo. Esta manhã tu que encorajas o meu caminho.
Lembro-me de ti e do teu olhar tão cheio.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Pausa para Crónica - Grow up.. but don't give up

Hoje é o último dia dos meus 26 anos. É estranho pensar assim, é estranho pensar num tempo que não volta nunca mais.
 
Não tenho nada contra o envelhecimento, acho que os anos passam e a maturidade traz consigo coisas boas, uma serenidade rara até agora, uma forma menos inflamada de ser, contudo nunca fiz um aniversário tão sentido e consciente da fugacidade de tudo. Consciente que a juventude nos foge.

É inevitável olhar para o tempo que passou e não fazer perguntas. Será que fui tudo o que podia ter sido? A velha questão que me perturba desde sempre. Será que me vou cumprir?

Analisar as coisas não as muda, mas eu preciso de escrever isto, nem que seja para lavar a alma, só mais uma vez. Eu não sei se podia ter sido muito mais até aqui, mas eu sei que fui tudo o que quis ser.

Não reclamarei de nada hoje, porque estes foram os melhores anos que eu podia ter tido. Muita persistência conjugada com uma porção de sorte, as pessoas certas e as pessoas erradas na hora exacta, hora exacta de aprender.Talvez eu não precisasse de ver tanta coisa nem de aguentar tanto, para tirar estas lições da vida, mas foi este o método de ensino que ela me deu. Na maior parte das vezes… resultou.

Acredito que tudo acontece com um propósito. As pessoas na estrada, as pedras, as quedas, os sonhos que ficaram por cumprir, as lições, os gestos que nos enchem o coração e até as mágoas que nos provocam são o preenchimento da história. São o pintar de uma tela em branco.

No final, o mais importante nesta caminhada vão ser as gargalhadas que deste, a felicidade que partilhaste, o bem que fizeste e o que te fizeram. Nisto eu fui abençoada com seres grandiosos. Eu queira ou não e apesar de todas as minhas manias de independência, tem existido sempre uma mão para me ajudar, alguém para me ouvir, alguém para me compreender. Dos pais aos irmãos. Da família à família que eu escolhi. A todos eles um obrigado por existirem.

Estou aqui para dizer que tenho orgulho em mim, na mulher que me tornei. Gosto de me ser. Assim um pouco só, meio alheada do comum, meio estranha. Com esta essência radical cada vez mais forte e nem por isso perdendo o amor e sobretudo a esperança no amor. Desengane-se quem acha que quando eu falo em amor falo em romantismo, quando eu digo esperança no amor é mesma coisa que estar dizer esperança no respeito das pessoas umas pelas outras. É respeito que falta. "Amor", as pessoas têm para dar e vender. (Eu sabia que não ia conseguir escrever o texto sem mandar uma boca!)

Então se tem de ser, vamos lá fazer 27 anos. Agora estou pronta. Pronta para essas novas lutas, pronta para continuar a aprender todos os dias, para provavelmente entristecer momentaneamente mais 300 vezes, mas também para viver esta serenidade que aprendeu a morar em mim, nestes últimos anos.

Bem-vinda fase adulta.

 


 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pausa para a poesia - Extinto


Há qualquer coisa de trágico em ti, eu sinto

Tão cinzento como é em mim e com todas essas peças sagradas.

Sempre tudo tão sentido, magoado. Malditas amarras.

Nesse olhar secreto que trazes e que eu pressinto

No meu olhar incompreendido, na procura que nunca se desgasta

Na essência que não se descobre, na distância que nos afasta

Há qualquer coisa de mágico, eu não minto.

No teu existir e no meu afecto que eu julgara extinto.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Pausa para a crónica - Fora do catálogo


Importa-me olhar para mim, olhar para dentro. Não só olhar, como ver as reais inquietações de pessoas como eu, de pessoas como tu. Explorar a verdadeira ideia de felicidade e realização. Falar de temas gerais e adaptá-los á pessoa que sou hoje. Gostava que este texto fosse uma ode ao Ser Humano. A todos os sonhadores, sensíveis mas ao mesmo tempo, seres de garra, capazes, sólidos, fora do catálogo.
Sempre me considerei uma pessoa aparentemente forte. Aparentemente, porque ninguém sabe a força que tem até ao momento em que é preciso tê-la. Eu não sabia o que como iria reagir em situações realmente difíceis, agora tenho uma noção. Comprovo que sou um osso duro de roer e isso conforta-me. “A vida tem Outonos”, a alegria é uma passagem que acontece assim como a tristeza, há momentos em que nada joga a nosso favor e para viver uma vida plena é preciso aprender a sobreviver a isso. Uma coisa é ser sensível, outra muito diferente é ser uma pessoa fraca. A tua atitude para a vida define seriamente a maneira como as coisas acontecem á tua volta.
A felicidade não pode ser considerada um destino, até mesmo porque ninguém pode garantir o que esse estado significa, esse lugar não é igual para todos e nada garante que apesar de teres chegado a um determinado patamar, não existam outros, 10 vezes melhores. Não é possível criar uma fórmula mágica e universal que te fará atingir o nirvana. É impraticável… o segredo está em cada um e na aventura que cada um quer viver.
Na filosofia grega, Eudaoimonia significa em termos genéricos felicidade, em termos mais específicos e segundo Aristóteles, a realização plena do próprio ser é a condição necessária para chegar a felicidade. Cada pessoa tem um percurso, uma maneira de se realizar. A felicidade está no caminho, na estrada, na forma como caminhas, como achas graça a pequenas coisas, como te entregas ao mínimo que fazes, como vais lutando e realizando sonhos, na forma como enfrentas e combates problemas e pessoas também.
Sempre me senti assim estranha, eu não tenho sítio porque passo a minha vida à procura dele e como diria António Variações “só estou bem aonde não estou”. Vivi tanto tempo com medo de não me encaixar e percebo agora que não há problema nenhum nisso. As pessoas gostam de mim assim, meio deslocada, meio á procura de sabe-se lá o quê e é bom perceber isso.
Obviamente há coisas que terás que mudar ou adaptar para conseguires viver em sociedade e eu também tenho dessas. Mas a tua essência, aquilo que és, tem de ser aceite e compreendido, se não for, temos pena! Ninguém é obrigado a gostar de ninguém.
Não querendo ser prepotente, mas na realidade eu sou uma das diferentes, tendo em conta o individualismo e egocentrismo que a sociedade enfrenta, as vaidades surrealistas, a maneira com toda a gente ignora a morte de certos princípios essenciais como o respeito, a humildade, o amor.
O modo como vivem excessivamente fixados no próprio umbigo, nos bens que têm, na aparência que dão e até a performance sexual passa à frente de merdas fundamentais. Desculpem-me, eu não sou santa nenhuma mas deste catálogo… eu não faço parte.
O desejo de liberdade é comum a muita gente. Ser livre, na minha opinião, implica viver não justificando muito, implica estar fora de uma gaiola, chamada sociedade mas respeitando sempre quem quer ficar dentro dela. Existem muitos pássaros que não querem sair da gaiola mas também existem outros que uma vez fora desse espaço físico confortável, se perdem. Uma coisa é ser independente, outra é ser livre. É das coisas mais complicadas de se fazer.
Citar o romantismo é vago. Eu não sou romântica, sou apenas pelo amor. Lacan disse “ Amar, é dar o que não se tem”, e é só isto que eu acredito, dar o que vai além de si mesmo, sem esperar que isso nos venha a preencher. A sociedade “ama” mal, ama porque o outro é um meio de satisfazer os seus desejos mas isso não é amor, isso para mim é só aparência, egoísmo, medo da solidão, falta de algo. Lamento mas neste campo eu não tenho elixir, se as coisas não forem como eu acredito… então elas nunca vão ser.
Se tivesse que escolher uma frase para terminar este texto que é no fundo uma reflexão sobre mim eu diria:
"Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!"
Nietzsche