quinta-feira, 26 de junho de 2014

Pausa para o conto - Uma história suja

Foram felizes para sempre… Que se lixe os finais felizes! Isto não é um conto para vos embalar. Está, é uma história suja.

Era uma vez, aquela que nunca foi princesa. Aquele tipo de mulher que todos sentenciam. A outra, a segunda opção. Essa mesma. A destruidora, a intrometida, a puta!

A puta nem sempre é feliz, acreditam? Às vezes também ama.

Ela sempre foi forte, independente, guerreira e eu? Eu nunca tinha conhecido uma mulher com a bravura que ela tinha nos olhos.

A não princesa que vos falo apaixonou-se, sem maldade, quase sem querer, por um homem comum.

Ela amava de uma maneira, como se o mundo pudesse acabar. Ela não tinha intenção de magoar ninguém, nunca teve. Simplesmente acreditou que podia tentar, ser igual a toda gente.

Mas às vezes a vida corta-nos os sonhos, há feridas que se abrem e matam lentamente os nossos pedaços. Nem todos nascemos para ser bem-amados. Vale mais amor nenhum, do que pouco amor.

Na opinião deste homem, ela nunca foi merecedora de amor, nunca foi a opção. Ele usou os caminhos da pela macia que ela tinha, prometeu-lhe um sonho, fê-la acreditar que a magia acontece e que os olhos não metem.

Contudo o ser humano, na generalidade, é pérfido. Um egoísta. Um homem que desperta o amor de uma mulher, sem ter intenção de o retribuir, não serve para ninguém.
E depois?

Depois… há um corpo desfalecido, uma alma a precisar do aroma perdido, uma pele ignorada, esquecida. Uma ferida no ego, que não sara. Uma vida entregue ao nada.

Ela não recuperou, eu sabia. Nada que eu fizesse agora, a podia curar.

Ela ficou sozinha. Fria, desprovida de amor-próprio, cansada da vida.

Morta.


Eu matei-a. 

Porque não soube valorizar a puta que eu tive a sorte, que me amasse.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Pausa para a crónica - Feia, é a mulher sem conteúdo.


"A mulher interessante não é propriamente bonita, mas tem personalidade, tem postura, tem um enigma no fundo dos olhos e uma malícia que inquieta a todos quando sorri... As pessoas questionam. O que é que essa mulher tem?! Ela tem algo. Pronome indefinido: algo. Ficar bonita, muitas conseguem, mas ter algo é para poucas."
Feia, é uma mulher presunçosa, de nariz empinado. Sem sequer ter motivos para isso.

Incapaz de dar valor ao que tem e ao que é, por dar tanta importância aos que as outras são.

Feia, é a mulher sem personalidade, que é apenas uma cópia de alguém.
Feia, é a mulher falsamente segura.
Feia, é a mulher que não sabe viver com ela própria.
Feia, é aquela que não deixa ninguém brilhar, porque tem uma necessidade constante de ser o centro das atenções.
Feia, é uma mulher que acha que sabe sempre tudo, mas na mínima adversidade não faz ideia do que fazer.

Feia, é a mulher sem conteúdo.

O resto. O resto são pormenores.
 

 

 
 

 

 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Pausa para a crónica - Animal

Lembro-me de olhar, para ti, meio desconfiada. Às vezes o olhar, de algumas pessoas, é tão vago, tão cheio de nada, que por isso mesmo, faz com que me demore na sua análise.

Mania das pessoas de quererem desvendar tudo no início. Nós nunca vamos conhecer o fundo da alma de alguém. Às vezes nem o nosso.

Esta é a história de um animal. Um animal, louco. A maior parte de nós nunca passará, de desejos animais, carnais, banais. A maior parte de nós nunca deixará de ser um louco disfarçado de exemplar.

Naquele dia, eu estava disposta a dar de mim. Tenho passado grandes períodos a tentar dar de mim. Mas não era uma parte minha, qualquer. Há partes de mim, que não prestam, não podem ser dadas. Não devemos dar coisas más aos outros.

Nem sempre é assim. Mas naquele dia foi, eu dei-te o melhor que tinha. Quando nós damos o melhor que somos, desejamos que nos retribuam. Nem sempre é assim.

É nesse momento, que acorda o bicho. Acho que toda a frieza, o calculismo, o mal e a desconfiança, vêm das feridas que a vida nos vai abrindo na pele. Daquelas que não lambemos, não curamos, que preferimos que sarem sozinhas.

Essas deixam marca, criam hábitos de dor. Transformam-te.

E depois disso? Como é que se volta ao início, como é que se esquece o rasgão nos afectos.

Este animal que vos escreve, não tem respostas. Este animal que vos escreve, é demasiado complicado, ou então ainda está a descobrir a ligação de todas estas coisas estapafúrdias, que a vida nos vai pondo no caminho.

Este animal..que sou eu. Gosto deste termo. Nunca me senti verdadeiramente igual aos que se dizem “não-animais”.

Na generalidade o humano racional irrita-me.

Há muito mais mentira na boca dos humanos, do que verdade. Há muito mais má intenção do que bondade.

Vaidade, irresponsabilidade.

Naquele dia, mais uma vez, eu tive o combate, nas minhas entranhas. As batalhas entre a razão e a emoção são sangrentas.

Há coisas que nascem de certos combates..

Nascem verdadeiras fortalezas, animais mais preparados, mais temidos.

Nasce em mim, coisas que eu nunca vi, não sabia que tinha. Nasce a paz. A vontade de viver longe dos monstros, dos animais amansados, das falsas feras e dos amestrados.


Nasce a vontade de viver perto dos animais selvagens…  tal como eu. 


Pausa para a poesia de Alguém - Nós (sobre)vivemos

Este poema não é meu, nem sei ainda quem o escreveu, faz parte do festival de escrita em que estou a participar.

Está no Asas, porque é muito bom! Faz-se boa poesia neste país! 

" No meu devaneio és eterno e destemido.
Vens lentamente na noite, que se faz demasiado curta para nós,
que não respeita o que temos para trocar.
Não lhe importa que tenhas que afagar cada milímetro,
para que a sintonia seja só nossa,
para que me faças sentir tua.
Não somos exigentes, apenas queremos tudo.
Consomes-me com toda a raiva que me tens,
Afogas os meus gritos dilacerados na tua boca.
E os nossos caminhos são quase paralelos.
E como tudo o que tem que ser na vida:somos uma sombra do que fomos.
Quando o sol está alto,
as sombras de nós fazem-se maiores que a vida,
constroem-se gigantes sem esperança. 
Voltar ao destino custa, dói por dentro, mói a alma;
Esbate o sorriso, fraqueja o ímpeto, dilui o desejo.
Nós… (sobre)vivemos."







Pausa para poesia - Trabalho final - A vida é o que acontece quando acordamos

O que ontem não ganhei

Estou desfalecida e presa, numa história aniquilada,
Nas redes do devaneio e da loucura, eu, tão mal admirada
Amor-próprio maltratado, no que foi uma alma consumida,
Espezinhaste-a, como quem pisa, nos sonhos da minha vida

A segunda opção, de um amor pouco sentido,
Fui apenas um desejo reprimido
Mera canção, de um poema infeliz, de um verso não vivido
Considerada sem engenho para te merecer,
Numa disputa desigual, como quem luta sabendo que vai perder

Esbanjada nas ruas, com os olhos molhados de pena e de dor
Adormeço nas pedras frias da fúria e do ressentimento
Como quem sonha contigo, no nosso quase abraço, no nosso quase amor,
Mas o dia nasce…o dia nasce sempre, e vem com ele o meu juramento

Antes de amar a ti, há uma vida para acontecer
Eu fui tudo o que me deixaste ser, tudo o que era meu, eu dei
Fui talvez mais longe do que podia, como quem dá sem conhecer,
Talvez tarde, mas eu acordei.

Que vença hoje, o que ontem não ganhei…


domingo, 8 de junho de 2014

Pausa para crónica - Nudez Feminina

Está crónica pode chocar, as almas mais “sensíveis”! Mas aviso já, que me estou a cagar!

Estou farta de puritanismos, mulheres santas que não valem uma merda, e homens que dizem que gostam “das recatadas” e depois tem de pagar para ver o que não tem em casa, ou meter palitos todos os dias.

Primeiro ponto, de onde é que vem esta revolta toda Inês Ramos?

Vem de um concurso de escrita, no qual, eu estou a participar. A crónica que quase ganhou esta semana, (ESCRITA POR UM HOMEM DE 26 ANOS), falava da nudez e exposição feminina nos dias que correm, e parece que toda a gente achou muita piada.

Importa esclarecer, antes de mais, que sim, eu reconheço que há exageros. Há saias curtas demais, há decotes não apropriados para certas ocasiões, as pitas agora apanharam a moda das leggings e top que mostra a barriga. Reconheço portanto, que em algumas situações é demasiado o que se mostra ou insinua. 

Há coisas ridículas, é como tudo!

Mas também tenho de dizer que o corpo é de cada um, e cada pessoa tem o direito de andar com se sente bem. O ser discreto ou não, é um gosto de cada um, que deve ser respeitado.

Em pleno século XXI, é um atraso de vida, achar que uma mini-saia significa “ preciso de sexo” e o verniz vermelho nas unhas diz automaticamente, “ sou uma grande maluca”.

Segundo ponto, porque é que estas tão ofendida com isso, Inês Ramos?

Sim, serviu-me a carapuça. E não tenho problemas nenhuns com isso! Se há coisa que eu adoro no universo feminino é saias, decotes, roupas justas e sim, o verniz vermelho é o meu preferido.

E podem ter a certeza que se me visto assim ou assado, não é porque “ estou a pedi-las” como já ouvi, de muito palhaço. Porque quando eu quero, eu peço, não insinuo.

Terceiro ponto, quem é que tem culpa aqui?

Tentando não me contradizer, na minha opinião, talvez grande parte das mulheres, por uma pagam as outras. Há coisas que eu considero exageradas e outras não, outras até são bem agradáveis à vista!

Mas também há aquelas "senhoras bem comportadas" que o passatempo mais lindo da vida delas, é cortar na casaca das outras! Grandes vacas invejosas. 

Os homens também têm culpa, são eles os grandes críticos! E é revoltante, porque a mulher com que eles casam é sempre uma puritana (coitadinha, nunca faz nada) e depois as outras que andam na rua “mal vestidas” e que esse mesmo homem se farta de cobiçar, essas é que andam a oferecer a todos. 

Não há paciência! Enquanto a roupa ou estilo, “falar” pelas pessoas, e definir quem és, isto não vai para frente!

SOCIEDADE MACHISTA E APOIADA POR CERTAS MULHERES!

Sociedade burra! Isso não se vê na roupa..  Nem na saia curta, ou peito descoberto.

A mim basta-se 10 de minutos de conversa e observação de atitude para ver onde anda a puta tapada e o cabrão encornado.


Já está .. Apanha esta oh pudico nojento machista !


Pausa para a crónica - Love your body

O ser humano é engraçado, somos feitos de vaidades, mas gostamos todos de dizer que não! 

Nas vastas observações que tenho feito e nas minhas próprias experiências, concluo que somos todos, sem excepção, seres que precisam a toda a hora de reconhecimento.

Para a maioria das pessoas, o amor por si, depende obrigatoriamente do que alguém pensa e diz, se possível 10 vezes por dia. Normalmente quando isso acontece, essas pessoas ficam inchadas de ego, qual pavão, a mostrar as penas.

Aceito! Toda a gente gosta de uma boquinha, de um piropo, de um “sim, acho-te piada para caneco”, e quem diz que não, mente.

Mas será que o todo o nosso amor-próprio só pode vir daí?

Os homens não sei bem, mas as mulheres, (ajuntamento estranhíssimo, no qual e me incluo), sofrem muito deste, “ diz que gostas”.

Atrevo-me a dizer que muita da segurança (falsa) e do nariz empinado (irritante), de certas mulheres, vem muito, por essa via.

Se isto é um problema? Claro que é.. Porque há sempre o dia, em que não estas no TOP +.

E então morres e achas-te a piorzinha, só porque o mundo hoje te trocou? Não reparou? Passaram-te á frente? pobrezinha...

É cliché.. Mas o amor tem de vir de dentro. Só se vive bem com os outros, quando amamos o que somos. Quando estamos seguras, de que aquilo que somos é suficiente. Quando mandamos a insegurança passear e libertamos a verdadeira beleza, que é ser única no mundo.

Pois é. Nunca paramos para pensar nisso. Queremos tanto ser umas iguais às outras, que nem reparamos na originalidade de ser única.

Claro, se pudéssemos escolher todas queríamos o corpo desta, o cabelo daquela, os olhos da outra.

Mas esse é o teu aspecto, é o que há, ama-o e faz dele o melhor uso possível. Se der para aperfeiçoar (e dá sempre), ainda melhor!

Amor tem pouco a ver com físico, nisso, se formos a pensar bem, somos todas mais ou menos iguais. A diferença de uma mulher, de bem consigo própria não reside nisso.

Reside na entrega, na aceitação de si, no amor-próprio, sem precisar que alguém lhe reconheça valor, para saber o que tem.

Mulher rejeitada é pior que gato assanhado! Cai o mundo.. eu sei!

Mas não é assim, só porque alguém não acha em ti o mesmo que acha em outra, não quer dizer necessariamente que tu sejas pior que alguém. São diferentes.. e ainda bem.

Há lá coisa mais atraente, do que uma mulher bem resolvida?

(verdadeiramente resolvida). 




quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pausa para a poesia dele - Fernando Pessoa

"Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

 
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"
 
(Trecho de “Poema em Linha Reta”, de Fernando Pessoa)
 


 
(São João do Estoril /2013)

A partilhar a casa ... com ele!

Mateus
 


 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Pausa para a crónica - Na pele da saudade

Faz hoje, tantos dias, que conto a tua ausência, como é excêntrica a vida na sua singela aparência. Como é doloroso perder para sempre, quem se vai e não volta mais.

Quando alguém parte, fica a dor dolorida no peito de um homem, fica o sorriso glorioso de um filme que foi passando e chegou ao fim. 

As feridas que se abriram na pele de um sonhador, serão as cicatrizes de uma lição, que sangrou, até aprender.

Onde é que se sente a ausência? Sente-se no coração, na chuva miudinha na janela, nos olhos molhados, na pele em fogo.

Na pele dele sempre escura e fria, pairava a minha pele branca, em que nascia a esperança de mais um dia. A pele dele, quente como as estações, tão mágica, que às vezes arrepiava, com o vento ameno das nossas emoções.

A estranha rugosidade da pele das mãos sábias que ela tinha, que passavam suavemente na minha cara de menina. A pele que eu visto depois disso, não é bonita. Tenho as marcas todas nos joelhos, de quem caiu por não saber e às vezes de quem caiu por querer.

Recordo sempre a pele macia do meu bebé, que saudade da pele do bebé, do cheiro imaculado que o bebé trazia. Sem marcas vorazes na casca tenra.

Recordo ainda as linhas traçadas na pele de minha mãe e a pele suja de terra, suor e de sol que o meu pai tinha, como quem trabalhou, mais do que podia.

Saudade da pele nua, nessa pele que era tua. Meu amor, quantas saudades de estar na pele, dessa que é a tua verdade, tão simples, tão crua.

Quanto desejo, afinal, de voltar a sentir na pele velha e cansada, a presença de quem partiu, cintilando de novo, como quem nunca se destruiu.

A cor da pele ou o aspecto que ela ganha, de nada importa, nesta manhã de outono, aqui ao pé dos ciprestes verdes. Não importa, quando a pele desse alguém é a única que nos toca.